Num dia, de inverno, do compartimento,
dum trenzinho, inglês, via eu, sozinho,
campina, estações: a tarde caía;
entrou uma moça: suava, tossia,
tirou o anoraque, deixou-o no assento;
falava comigo, nervosa, enfadada;
soou um alarme: olhaste p’ra mim,
um pouco assustada, buscando, inconsciente,
a intimidade; foi passando a noite,
e sempre falavas; chegou a alvorada:
cansa, perspirante, pediste desculpa,
pelo teu cabelo, tão desordenado;
surpresivamente, te vieste, a mim,
p’ra te despedir; lançaste-me as mãos,
ao colo, oh surpresa!, teus olhos, brilhavam,
disseste, que fora, formoso, falar,
comigo, uma noite... e eu, num repente,
também, te abracei, e te acarinhei,
mulher, contra mim, em abraço, lento
(nunca saberás como em mim senti
o teu peito mole); e ainda, disseste:
“really, really nice!”; mas, aginha, foste,
ocultando os olhos, corredor adiante:
sei que neles tinhas, bágoas, e mais;
eu também, fiquei, estantio, um tempo,
pressentindo, algo: “really, really nice!”
repeti, atordoado; na estação, baixaste,
no final da noite; desde a plataforma,
deserta, acenaste, derradeira vez,
nela, te adentraste, e desapareceste;
depois, comprendi: deixaste a tua roupa,
mas tu não te foste: sei que te verei,
um dia, e que esperas, por mim, na estação,
inglesa, deserta: fui eu, que se foi...
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